Liveaboard, uma imersão de mergulho no Arquipélago de Abrolhos

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Você conhece Abrolhos, na Bahia?

Abrolhos está localizado no litoral do extremo sul da Bahia, e foi o primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil, criado em 1983. São 87.943 hectares de área protegida, dessa que é a região com a maior biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul. Ali encontra-se o maior banco de corais e o mais importante berçário das baleias jubartes do Atlântico Sul. Abrolhos também abriga diversas espécies de tartarugas marinhas ameaçadas, como as tartarugas cabeçuda, verde e de pente. Além dessas, ainda pode ser surpreendido(a) pela a tartaruga-de-couro, a de mais raridade entre as espécies na região.

Imagem: ICMBio

O arquipélago é composto por cinco ilhas de origem vulcânica:

  • Ilha Redonda
  • Ilha Siriba
  • Ilha Sueste
  • Ilha Guarita
  • Ilha Santa Bárbara (excluída dos limites do parque e sob jurisdição da Marinha do Brasil)

No arquipélago existem aproximadamente 1.300 espécies registradas, sendo que 45 delas são consideradas ameaçadas, segundo listas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). É a única região do planeta onde é possível encontrar o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis).

Imagem: ICMBio

Porém, antes de se tornar uma área protegida, Abrolhos já foi cenário de batalhas navais, como a histórica Batalha Naval de Abrolhos, em 12 de setembro de 1631, travada entre duas esquadras: holandesa e luso-espanhola. Inclusive, alguns pontos de mergulho são em locais de naufrágios de navios abatidos em guerra ou que afundaram por terem chocado com os chapeirões.

Os chapeirões são formações recifais, únicas no mundo, só existentes em Abrolhos, que chegam a ter 20 metros de altura e 50 metros de diâmetro no topo.

Aliás, o nome do arquipélago advém justamente de um alerta feito por navegantes portugueses ao avistar o arquipélago: “Abra os olhos”, diziam eles, em relação à quantidade dos enormes recifes de corais que poderiam colidir com as embarcações.

Um dos maiores naufrágios é o Gaudina, com profundidade máxima de 27 metros. Ele chocou com chapeirão e afundou. Nessa imagem é possível ver como os restos do navio encontra-se no fundo do mar. Com 110 metros, transportava passageiros (todos sobreviveram) e carga de café.

Como chegar em Abrolhos?

O Arquipélago de Abrolhos é acessível somente pelo mar e para chegar nesse paraíso, será necessário fazer algumas baldeações. A cidade de acesso para o arquipélago é Caravelas, de onde saem as embarcações para Abrolhos.

De avião: O ponto de partida para conhecer o Parque Nacional de Abrolhos é a cidade de Caravelas. O aeroporto mais próximo fica em Teixeira de Freitas, a 83 km de Caravelas. No entanto, a única empresa que opera é a Azul Linhas Aéreas, com voos partindo de Confins. Outra opção, é chegar por Porto Seguro, que está localizado a 261 km de Caravelas. Por lá têm mais opções de voos, saindo de diferentes aeroportos do Brasil, e é uma das formas mais econômica.

De carro: Saindo de qualquer um dos dois aeroportos, ainda é preciso pegar estrada até Caravelas. A melhor opção é alugar um carro.

De ônibus: Se for em uma pegada mais econômica, existe a opção de ir em uma das linhas regulares da Viação São Geraldo ou Expresso Brasileiro, com saídas diárias de Porto Seguro para Caravelas. A viagem dura em torno de 9h20.

ATENÇÃO: Será necessário pernoitar pelo menos duas noites em Caravelas (na chegada e saída). No meu caso, como fui apenas para o liveabord, escolhi uma hospedagem mais econômica, mas existem muitas opções:



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Liveabord, vivendo a bordo e mergulhando!

Você já escutou esse termo? A tradução para Liveabord é literalmente “viver a bordo”, que é um tipo de viagem onde as pessoas ficam ancoradas em uma embarcação por alguns dias, especialmente para fazer mergulhos. Assemelha-se à um cruzeiro, onde a embarcação é a única opção de hospedagem durante um determinado tempo.

A Apecatu Expedições opera com duas embarcações: o Catamarã Zeus e o Catamarã Netuno. Ficamos 3 dias no Zeus, que tem capacidade para 12 pessoas, com 2 suítes de casal e 3 cabines duplas. O pacote inclui alimentação completa (café da manhã, almoço, sobremesa, lanche, janta e bebidas não alcóolicas) + guia instrutor de mergulho + equipamentos.

Ao total foram 8 mergulhos: diurnos e noturno, para ver a vida marinha e alguns naufrágios. Os mergulhos só podem ser feitos por mergulhadores(as) certificados. No entanto, esse tipo de viagem é para qualquer pessoa que queira ter uma imersão em alto mar. Quem não faz o mergulho autônomo, tem a opção de fazer snorkel, caiaque e SUP.

Abrolhos é considerado um dos melhores lugares para fazer mergulhos do Brasil, e até Charles Darwin passou por ali em 1832, a bordo do veleiro HMS Beagle. Algumas considerações importantes sobre seus dias em Abrolhos foram reproduzidas no livro “Aventuras e Descobertas de Darwin a bordo do Beagle”, escrito por Richard Keynes, bisneto de Darwin.

“As ilhas dos Abrolhos, vistas de uma certa distância, são de um verde brilhante. A vegetação consiste de plantas suculentas e gramina, entremeadas com alguns arbustos e cactos… […] O fundo do mar em volta é densamente coberto por enormes corais cerebriformes (corais pedrentos, solitários, de aparência semelhante ao cérebro); muitos tinham mais de uma jarda (90 cm) de diâmetro”. Charles Darwin, 29 de março de 1832.

O liveabord é uma das melhores maneiras de aproveitar e conhecer todas as belezas naturais do Parque Nacional de Abrolhos.

Pontos de mergulhos dos naufrágios. Imagem: ICMbio

Como são os dias liveaboard com a Apecatu?

Existem opções de pacotes de 2 a 4 dias, o que fiz foi de 3 dias e achei suficiente. Super recomendo!

Dia 1: Saída de Caravelas para o Parque Nacional de Abrolhos. Foram cerca de 4 horas de navegação, e a condição do mar vai depender do clima. Pode ter dias de navegações mais tranquilas, outras com o mar mais agitado. Por isso, se for uma pessoa com facilidade de enjoar, recomendo tomar remédio antes do embarque. Logo na chegada é servido o almoço e já saímos para o primeiro mergulho. Vimos o pôr do sol é na Ilha Siriba, uma das visitáveis. O segundo mergulho é noturno.

Frutas, chás e biscoitos ficam à dispoção

Dia 2: Depois do café da manhã. Seguimos por cerca de 50 minutos em alto mar para o terceiro mergulho, no naufrágio Gaudina, com profundidade máxima de 27 metros. O quarto mergulho é na Língua da Siriba (10 metros). Aqui é possível fazer snorkel. O quinto mergulho do dia é nos Chapeirões da Sueste (15 metros). No final da tarde visitamos a Ilha de Santa Bárbara e fechamos a noite, com mais um mergulho.

Dia 3: Café da manhã. O último mergulho é na região Faca Cega, com profundidade máxima de 26 metros. Esse é um dos principais chapeirões de Abrolhos. É lindo, um dos meus preferidos!

IMPORTANTE: A escolha dos pontos de mergulho serão determinadas pela quantidade de dias escolhido no pacote e as condições climáticas durante esse período.

Posso hospedar em uma das ilhas?

Não. Das cinco ilhas do arquipélago, as únicas visitáveis são as Ilhas de Santa Bárbara e Siriba. As ilhas são o habitat de diversas espécies de aves marinhas, residentes e migratórias, dentre elas: a grazina do bico vermelho, atobás brancos e marrons, fragatas e beneditos..

Com o objetivo de conservação, não é permitido desembarcar nas demais ilhas. Tudo isso, para promover a conservação desse delicado e rico ambiente.

Ilha de Santa Bárbara 

A única ilha habitada é a de Santa Bárbara, povoada por apenas por algumas pessoas, sendo elas militares da marinha, pesquisadores e funcionários do Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMBio), órgão responsável pela gestão do parque. Essa é a única ilha que está fora de jurisdição do parque nacional marinha, pertencendo a Marinha do Brasil.

Essa é a maior ilha do arquipélago, com apenas 1.5 km de extensão e 30 metros de largura. O desembarque na ilha é permitido apenas com autorização da Marinha, e fazemos um pequeno tour, guiados por um militar da marinha, que nos conta um pouco da história e curiosidades do local. Ao final, vistamos o farol de Abrolhos.

O farol foi instalado em 1861 por ordem de D. Pedro II, foi produzido na frança, construído em ferro fundido, e ainda conserva as lentes de cristais originais. Até hoje o farol funciona, alcançando uma distância de aproximadamente 50 milhas náuticas, que norteiam os navegadores por ali passam. Ele é acesso manualmente todos os dias, ao pôr do sol.

Ilha Siriba

Berçário das aves atobás, essa é um das ilhas inabitadas, que é visitável. Essa ilha abriga diversas espécies de aves e ali, percorremos uma trilha de aproximadamente de 1.600 metros. Ao caminhar pela ilha é possível observar os ninhais do atobá-branco, mascarado e das grazinas do bico vermelho. A caminhada é guiada por membros da equipe do ICMBio e/ou condutores autorizados.

Ilha Guarita: É a menor ilha do Parque. O que chama atenção nela são as pedras arredondadas “pintadas” de branco, que na realidade, a cor é originada pelas fezes de inúmeras aves que vivem no local.

Ilha Redonda: A segunda mais alta do arquipélago, é o lugar onde as fragatas costumam fazer seus ninhos. Durante o verão a ilha é escolhida para desova das tartarugas-cabeçudas.

Imagem: ICMBio

Ilha Sueste: A mais distante do arquipélago e por isso, uma das mais preservadas. Abriga a principal colônia dos Atobás Marrom no Arquipélago e mais ninhos de todas as outras espécies catalogadas no arquipélago.

Imagem: ICMBio

Melhor época para conhecer Abrolhos

Durante todo o ano é possível conhecer o Parque Nacional de Abrolhos. No entanto, um dos grandes atrativos são as baleias jubartes, que chegam na região a partir de junho e ficam até meados de novembro. São tantas baleias, que é possível vê-las até mesmo durante o trajeto e, durante os mergulhos é possível escutar seus cantos. Imagina a emoção de vivenciar isso?!

  • dezembro a abril: melhor época para práticas aquáticas como mergulho, pois as águas estão mais quentes e com maior visibilidade.
  • junho a novembro: época da migração das baleias jubartes para reproduzirem e terem seus filhotes. O pico de aparições das baleias é entre julho e outubro.

Durante todo o ano é possível observar diversas espécies de aves marinhas no Parque. Algumas usam as ilhas para se reproduzir e cuidar dos seus filhotes, enquanto outras estão só de passagem.

Qual é a época das baleias jubartes?

Já imaginou ver baleias jubartes ou até mesmo escutá-las enquanto mergulha? Em Abrolhos é possível! O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é um dos pontos mais privilegiados do mundo para a observação de baleias. Os meses com mais chances de vê-las são agosto e setembro.

Além das baleias-jubarte, outros cetáceos são avistados nas águas de Abrolhos, como os golfinhos de dentes-rugosos, golfinhos nariz-de-garrafa e botos-cinza, além da baleia franca austral e a baleia minke.

Imagem: ICMBio

Precisa de autorização especial para visitar Abrolhos?

Não. É como qualquer outro Parque Nacional aberto para visitação. As únicas obrigatoriedades é pagar a taxa de ingresso e ir com uma das agencias credenciadas. Fui com a Apecatu Expedições.

Quanto custa ir para Abrolhos?

Os valores variam de acordo com a quantidade de dias e o tipo de pacote. Geralmente, fica entre R$ 2.000,00 a R$3.750,00. Entre em contato com o pessoal da Apecatu e solicite um orçamento: aqui

Quem não é mergulhador(a) certificado(a) pode fazer o liveabord?

Sim. É possível fazer o Batismo, que é uma modalidade de mergulho autônomo experimental para iniciantes, onde você aprenderá técnicas básicas de mergulho e será guiado com instrutor. Além disso, existem vários pontos no parque para mergulhos snorkel, andar de caiaque ou SUP.

Existe passeio de bate-volta?

Sim, porém não recomendo. São quase 4 horas de deslocamento por trecho, para ficar poucas horas no arquipélago. Abrolhos é um lugar que merece ser visitado com calma. Geralmente o passeio bate-volta é das 7h às 18h, sendo praticamente 8h de navegação.

Sabia que seu protetor solar pode contribuir com a morte de corais?

Essa é uma informação muito importante! Afinal, estamos falando de um arquipélago que é aberto para visitação, onde encontra-se o maior banco de corais do Brasil e do Atlântico Sul.

Em muitos protetores solares existe uma substância química chamada oxibenzona, que ajuda na proteção da pele contra os raios ultravioletas do tipo A (UV-A) e do tipo B (UV-B). O problema é que, quando esse composto é liberado no mar, chega nos corais, que absorve o produto e morre. Os corais que sobrevivem ficam embranquecidos e tem o seu sistema reprodutor comprometido. Em alguns locais no México e no Havaí, o uso de produtos com oxibenzona está proibido em reservas marinhas.

Como alternativa é aconselhável usar filtros solares à base de óleos naturais que não agridem o meio ambiente. Muitas marcas grandes como Australian Gold, estão reitarando de sua composição a oxibenzona, pesquise e adote para a vida!

O que não deixar de levar para Abrolhos?

  • Protetor solar: o sol é muito forte na Bahia. Dê preferência para protetores que não matam os corais.
  • Corta vento: são esses casacos mais finos desenvolvidos para proteger o corpo contra ventos fortes. Geralmente, visitamos as ilhas depois de algum mergulho, e dependendo da época do ano, venta muito no final de tarde. Esse tipo de casaco ajuda amenizar a troca de temperatura entre o corpo e o ambiente.
  • Calçado confortável: chinelo, papetes ou híbridos, que podem molhar. As trilhas são muito curtas e para descer do bote precisamos caminhar um trechinho com os pés na água.
  • Remédio para enjoo: se tiver predisposição para enjoar, a recomendação é tomar antes de embarcar.
  • Roupas leves: você ficará praticamente todo o tempo com roupas de banhos, por isso, não tem necessidade de levar muitas roupas. 
  • Toalha grande: na embarcação têm toalhas, mas como usamos muitas vezes senti falta de ter uma maior para a saída dos mergulhos. 

Observação importante: Vale lembrar que a realização de atividades no mar depende das condições climáticas, em especial dos ventos e ondas, o que pode inviabilizar o passeio. Para o melhor planejamento e proveito de sua viagem, consulte a previsão climática na época da sua viagem.

Brasiliense, turismóloga, blogueira, mulher medicina, admiradora das brincadeiras populares e dos simbolismos étnicos. Sol e lua em sagitário, adora banana, cachoeiras, rios e mar. Não viaja sem seus óleos essenciais, não recusa um convite para dançar e acredita que o abraço cura.

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