Não julgue quem ofereceu carona, julgue quem matou

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Sou mulher, tenho um blog de viagens e por ele compartilho as alegrias de viajar, mas também toco em feridas, trazendo à tona questões que nos tiram da zona de conforto e abrem outras percepções de ser viajante. Por isso, algumas mulheres me pediram falar sobre Kelly, jovem de 22 anos que foi morta ao dar carona para um homem desconhecido de um grupo de caronas no WhatsApp.

Para começar, A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA. Apenas pare! Em diversas outras situações, onde a mulher é vítima, é triste ver os questionamentos medievais de uma sociedade que nos subjuga e se alimenta de argumentos patriarcais e machistas para justificar o motivo do crime e/ou abuso (argumentos esses também defendido por outras mulheres). ⠀

“Por que ela deu carona para um homem desconhecido?” Esse mesmo discurso reverbera em outras tantas situações, como “Mas ela estava sozinha na balada. Que roupa ela usava? Por que estava viajando sozinha? Ela provocou.” Qual é, minha gente, a culpa é da mulher? Vamos começar a inverter esses valores, está errado!

O foco não deveria estar em julgar o que a vítima poderia ou não fazer, e sim, por qual motivo as mulheres continuam sendo mortas e abusadas por homens todos os dias. Nenhum homem tem o direito de nos calar “só porque somos mulheres”. Temos direitos iguais.

Se uma mulher quiser usar roupa curta, sair sozinha para beber, ficar bêbada, dançar do jeito que quiser, viajar sozinha, dar carona e fazer o escambau… ELA PODE! Vamos começar falar do crime e não das escolhas da mulher, se foram certas ou erradas. Não é sobre caronas, consegue perceber? ⠀

Poderia fazer um post dizendo que “sim, estamos plenamente seguras!” Mas sinto muito, a verdade é que não estamos. Enquanto esse discurso culpabilizando a vítima for entendido como verdade, muitas outras mulheres serão vítimas e pra piorar, ainda culpadas. Pode ser eu, sua amiga, sua irmã, sua tia, sua filha, sua cunhada, sua prima, sua colega de escola, sua vizinha, você. PODE SER QUALQUER MULHER, EM QUALQUER SITUAÇÃO. ⠀

Vou continuar viajando sozinha, pegando carona e acreditando que existem muito mais pessoas boas do que ruins no mundo. Mas não posso querer iludi-las, nem a mim mesma, com uma falsa verdade de que estamos seguras. E repito, o risco não é dar carona para um desconhecido. Existe risco em casa, na escola, no trabalho, na rua, no ônibus, em qualquer lugar do mundo; você usando um roupa curta e decotada ou estando de burca. ⠀

Não podemos deixar que paralisem nossos sonhos nem que nos afastem de nossa intuição. Observe, esteja atenta, mas nunca deixe de caminhar.

Brasiliense, turismóloga, blogueira, mulher medicina, admiradora das brincadeiras populares e dos simbolismos étnicos. Sol e lua em sagitário, adora banana, cachoeiras, rios e mar. Não viaja sem seus óleos essenciais, não recusa um convite para dançar e acredita que o abraço cura.

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