Soweto, um dos bairros mais importantes da África do Sul

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Soweto é a sigla para South Western Townships, um dos bairros no subúrbio de Joanesburgo, cenário de importantes lutas políticas durante o período do apartheid. O bairro nasceu sob a base do regime de segregação racial, onde os negros deveriam, por lei, viver em regiões afastadas dos brancos. O local é sinônimo de resistência e luta conta o regime opressor os negros sofreram na África do Sul nesse período. Esses bairros, chamados também de townships, não eram exclusivos para negros e sim, qualquer outra raça não considerada branca, como indianos, chineses e mulatos. Foram mais de 50 anos sobrevivendo em condições precárias, excluídos do direito de serem livres em sua própria nação. Essa política de segregação racial durou mais de quatro décadas, de 1948 até 1994, ano que Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul.

Não houve um dia em particular no qual eu falei, ‘Deste momento em diante vou me devotar à libertação do meu povo’, em vez disso, simplesmente me vi fazendo isso, e não conseguiria agir diferente.” Nelson Mandela, do livro Longa Caminhada até a Liberdade

Um dos momentos mais marcantes do bairro ocorreu no ano de 1976, onde centenas de jovens negros foram mortos no episódio que ficou conhecido como “Levante de Soweto”  ou o “Massacre de Soweto”. Nessa época o governo sul-africano não permitia que aos jovens tivessem uma educação gratuita e de qualidade, como os jovens brancos recebiam. Os negros pagavam para estudar, enquanto os brancos não. Foram proibidos de estudar inglês e sua língua nativa, o bantu, obrigando-os aprender apenas o africâner, dialeto símbolo do apartheid. Essa medida abusiva foi a gota d’água para milhares de estudantes do Soweto. No dia 16 de junho de 1976 cerca de 20 mil estudantes saíram para manifestar e foram fortemente repreendidos pela polícia. Naquele dia, vários jovens morreram lutando pela democracia, um deles: Hector Pieterson, de 13 anos, morreu nos braços de um amigo que o carregava, fugindo dos ataques.

Após esses protestos muitas outras manifestações aconteceram em Soweto, e até dezembro de 1976 mais de 500 manifestantes foram mortos e milhares foram feridos.

Em 1983 Soweto virou uma cidade independente e é muito comum escutar de pessoas locais que Soweto não é um bairro de Joanesburgo e sim uma cidade livre.

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Museu Hector Pieterson

No dia seguinte à manifestação, a imagem da criança carregando seu amigo, Hector Pieterson, correu o mundo e o jovem morto por policiais virou símbolo nacional. No mesmo ano, o museu foi construído em memória aos mais de 20 estudantes mortos naquela manifestação.

Após esse protesto muitas outras manifestações aconteceram em Soweto. Até dezembro daquele ano, de 1976, mais de 500 manifestantes foram mortos e milhares ficaram feridos.

Praça do Museo de Héctor Pieterson, em Soweto
Praça do Museo de Héctor Pieterson, em Soweto.

Soweto hoje

Atualmente vivem quase 4 milhões de habitantes em Soweto, que tem a fama de ser um dos bairros mais perigosos de Joanesburgo. É importante ressaltar que os problemas enfrentados no local são os mesmos de vários outros subúrbios no mundo. Eu me senti muito segura em Soweto, mas fomos com um grupo guiado e visitamos apenas as partes mais turísticas. Por isso, recomendo que conheçam o bairro com uma pessoa local e/ou contratem um passeio guiado. Existem áreas que são controladas por gangues e vale lembrar que a África do Sul lidera o ranking mundial de estupros. Mas não deixe que essas referências negativas ofusquem a importância histórica do local. Para mim, foi um dos lugares mais incríveis que conheci em Joanesburgo.

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Foto: André Motta do blog Viagem Criativa

A pobreza de Soweto

Com o fim do apartheid muita coisa mudou, mas a pobreza são facilmente observadas em uma curta caminhada pelos guetos de Soweto.

Ruas com esgoto a céu aberto e casas de madeira fazem parte dos cenários da parte mais pobre de Soweto. Após o apartheid o governo criou casas populares para a população de baixa renda e disponibilizou albergues comunitários para homens e mulheres. Mas ainda assim, quase 60% da população não tem acesso à educação, água e luz, e vivem em condições precárias. Respingos do apartheid… 

Esses bairros podem ser visitados pelo turista (e não sei até que ponto isso é bom para população) e apesar de todas as dificuldades a receptividade das pessoas que ali vivem é emocionante. Principalmente, o carinho das crianças.

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Um dos momentos inesperados que vivi em Soweto foi quando fomos convidados para comer um dos pratos típicos: bochecha de vaca cozida e beber um tipo de cerveja bem fermentada, com o gosto muito forte, servida em uma cabaça compartilhada com todos.

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A casa de Nelson Mandela

Nelson Mandela, o maior líder da luta contra a segregação racial, viveu muitos anos na Rua Vilakazi, em Soweto. Curiosamente, essa é a única rua do mundo onde moraram dois ganhadores do Prêmio Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu. Sem dúvida, é um dos locais mais visitados de Soweto. A casa do Mandela é um museu e funciona de segunda a domingo das 9h às 16h45 e é fechada para visitação na sexta-feira.

Artesanatos locais

Os artesanatos são maravilhosos! Eles têm muitas riquezas de detalhes e são sempre fabricados com materiais da região, principalmente extraídos da própria natureza. Tudo é feito manualmente e é uma das principais fontes de renda de muitas famílias. Por isso, se for viajar para África do Sul dê prioridade na compra de souvenir diretamente com o artesão, dessa forma você ajudará uma família local.

Hospedagem: Ficamos hospedados no Lebo’s Soweto Backpackers. Ele tem ótima localização e oferece tours para os principais pontos turísticos de Soweto, incluindo tour de bike.

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Foto: André Motta do blog Viagem Criativa
O projeto Blogueiros na África do Sul (#DescubraAfricadoSul) foi uma realização do Travel Concept Solution com apoio da Pangea TrailsSouth African Airways, Detecta Hotel e incentivo da agência nacional de turismo (South African Tourism), da cidade de Joanesburgo (Joburg Tourisme também de Cape Town (Cape Town Tourism). Veja também os blogs que participaram da viagem: Dentro de MochilãoTerritóriosViajando com Eles e Viagem Criativa
Brasiliense, turismóloga, blogueira, mulher medicina, admiradora das brincadeiras populares e dos simbolismos étnicos. Sol e lua em sagitário, adora banana, cachoeiras, rios e mar. Não viaja sem seus óleos essenciais, não recusa um convite para dançar e acredita que o abraço cura.

6 COMENTÁRIOS

  1. Oi, Cris!
    Sei que é uma pergunta complexa, mas você sentiu que a África do Sul é segura para turistas negros? Eu acho muito relatos de viagem sobre o país mas é sempre de turistas brancos (sigo pesquisando…) mas busco saber se as regiões voltadas para o turismo há resquícios de racismo na cara dura… Você ouviu falar sobre algo?

    Obrigada.

    • Olá Pat, é complexa essa questão pq não vivo diretamente essa triste realidade do racismo, mas super compreendo sua preocupação.. infelizmente a cor da pele ainda incomoda muitos seres inferiores. Mas olhe, a África do Sul têm muitos negros e apesar do massacre “branco” que viveram percebi as pessoas muito receptivas e acolhedora. Não ouvi falar de nada, mas agora fiquei curiosa sobre esse tema. Vi que você tem um blog, já escreveu sobre isso?

  2. Fiquei emocionada lendo essa matéria. Gostaria muito de ter a oportunidade de um dia está lá também. Parabéns a todos.

  3. baita dia!
    e como eu cheguei atrasado, esse ai foi literalmente o primeiro contato que tive com o povo e o país. pra não esquecer nunca mais! <3

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